segunda-feira, dezembro 30, 2013

O ano do meu descontentamento...


Quando existe uma ruptura na nossa vida e ela se dá sem aviso nem protecção, pensamos que após um determinado tempo de luto interior as coisas se vão recompor, tudo será melhor. Passou a tempestade.

Mas não encontramos a bonança, porque a tempestade foi devastadora, arrasou tudo até às fundações. Deixou pouco mais que destroços de nós mesmos e é com esses destroços que temos de começar a construir coisas.

Sonhos, caminhos. E a reconstrução principal, o nosso eu. Reposicionar-nos perante a vida, rever comportamentos, aprender lições e sobretudo, achar de novo a paixão de viver não é fácil. Ai sim, está a tormenta, esse é a subida íngreme no caminho. E podia ser logo, ou pode durar tanto tempo, que o luto já se esfumou, que todas as pazes com a vida estão feitas, nada mais há a afirmar. E ainda assim, a paixão de viver não nos arrebatou.

2013 não foi um bom ano. Um parte de mim acha-me injusta. Viajei, participei em projectos bons, tivemos sucesso no que quisemos fazer. A saúde acompanhou-me na maior parte do tempo, e fui livre. Tão livre quanto a minha carteira me permitiu. Livre de ir onde quis, de conhecer, de experimentar.

Infelizmente a minha carteira é menos livre que eu e a minha mente corre bem mais que as minhas pernas...

Mas 2013 não foi um bom ano porque lhe faltou paixão e sentido.
Foi um ano adiado, de suspense. De vontade de partir e nenhuma capacidade para o realizar.

De busca inconsequente e também de muitas amarras que parecem só agora começar a se soltar.

A minha vida, independentemente desta aura de pessimismo nacional, foi ela uma crise. 
Uma enorme crise existencial.

Nunca me foi difícil viver os anos na segurança das coisas certas, muitos menos na espontaneidade da adolescência. E ela dura, dura... dura muito para lá dos vinte.

O ano em que se tem 29 anos é duro, porque por mais que a idade seja um estado de espírito e o nosso corpo se comporte de forma jovial em breve teremos 30. Devíamos ter vivido coisas, devíamos estar mais além. E não estamos. Temos de aprender a digerir isso.

Ter 29 anos e estar completamente desapaixonada pela a vida em geral é aterrador.

Imagino então que 2014 possa ser o começo de uma nova caminhada. Não faço pedidos, nem preces nem desejo mais do que a vida me pode dar.

Eu sei que tenho as ferramentas... só ainda não sei onde as usar.

Só ambiciono que 2014 seja o ano do descobrimento. Que ter 30, seja melhor que ter 20. Ainda que sem a casa e o carro dos sonhos, nem o emprego estimulante, nem alguém apaixonado...sendo, na amplitude dos dias EU. Cada vez mais um EU uno e completo, confiante.

Um EU em que eu posso confiar.

P.S. Feliz Ano Novo.

sábado, dezembro 28, 2013

O Corpo…


Imagino o corpo como uma máquina perfeitamente oleada, a trabalhar em perfeita harmonia e equilíbrio, num balanço justo entre o esforço e a sua compensação.

E ainda assim uma máquina que falha e que precisa de ser constantemente afinada, estimulada e calibrada. Uma máquina que nos surpreende uns dias por ser capaz de muito mais, nos desaponta noutros por falhar sem razão.

Como todas as máquinas deteriora-se mais quando está parada. Se uma peça está no sítio errado e não a acertamos ela faz cama e perpetua-se numa calcificação defeituosa.

Se lhe damos o combustível errado ela entope-se, incha, rejeita até que explode.

Essa máquina, o nosso corpo responde constantemente, carrega-nos. Mas exige.

Alguns de nós carregamos máquinas perfeitas que só pedem o manuseamento cuidado. Outros nasceram em máquinas defeituosas, dessas que apesar de trabalharem incessantemente o fazem de forma ensurdecedora, quebrando com trejeitos desiguais, como se algo não estivesse no sítio.

De uma forma ou de outra, essa máquina que bombeia a nossa alma pelas veias, o espelho de quem somos é perfeita. Espanta-me todos os dias!

Mesmo quando me falha. Mesmo quando não me acompanha, mesmo quando na máquina habitada por mim, não me encontro eu.


Num corpo vive a alma. Tratemo-lo como se tratam as mentes…

sábado, dezembro 14, 2013

Crenças...

Nunca tive uma educação religiosa. Filha que sou de uma relação extra-conjungal mal vista na "aldeia" a meio dos anos 80, os meus pais excusaram-se de me batizar.

Durante a escola, o meu pai achou que eu não devia fazer a educação moral e nunca, na minha casa, se teve ritos ou crenças para lá do senso comum de uma educação ocidental.

Posso enumerar pelos dedos das mãos as cerimonias religiosas a que assisti. Três casamentos, dois funerais, uma missa de 7°dia, um batizado e a minha própria queima das fitas.

Crescer nessa total ausência de credo é ao mesmo tempo libertador e absurdo, porque crer em algo trás um certo conforto à alma, acrescenta-lhe sentido. Justificar o mal que nos acontece com os designios de Deus, com o plano superior e o de bom, como uma benção divina providência justificação ao absurdo da existência. 

Por outro lado, a iliteracia religiosa sobressai nesses momentos aos quais devemos comungar com os outros. O não saber qual a resposta à ladainha da missa mantêm-me de boca fechada desfarçando um certo embaraço, porque provavelmente fiz os gestos ao contrário, porque devemos impor respeito nos momentos de fé. Aquilo deve dizer algo, deve ser emocionante, espiritual e o meu ar de ser ausente não se compadece. Apenas ai existo questionando-me sobre o que será suposto sentir.

Quando não pertences, olhas para baixo, focas os pés, meditas. Como qualquer provação eventualmente chegará ao fim. A ignorância é então o meu estado de graça.

O que não quer dizer que não tenha fé. Toda a nossa educação é de alguma forma reliogiosa. O nosso conceito de culpa e de pecado. Contínuo a lembrar a Santa Bárbara quando faz trovões.

Sinto de alguma forma respeito pelos templos, pelos espaços, mesmo que desconfie das instituições. Acendo velas em Fátima, de forma desprendida. Imagino que se pedir, há uma qualquer probabilidade de ser ouvida.

Questiono-me muitas vezes se essa ileteracia me exclui. Se posso ser ouvida se não faço parte. Se faz sequer sentido pedir. Ou se posso acreditar que a sugestão do pedido em conjunto com essa força do desejo nos pode simplesmente sugestionar e impulsionar a ser mais positivos, que a crença de que temos ajuda dívina nos permite fazer coisas acontecer.

Todas essas questões são inócuas a maior parte do tempo. Não nos surgem num domingo de manhã em que em vez de ir à missa dormimos até à hora do brunch, nem nos atormentam quando escolhemos o bife para o almoço numa sexta—feira Santa.

Essas questões vagueiam em nós apenas nos momentos de perda, de dúvida ou grande desilusão. Quando precisamos de explicações, ou quando confrontados com a falta de sentido, com o vazio, nos olhamos e pensamos que precisávamos de crer em algo, ter fé.

Toda esta conversa porque me é difícil, mesmo com o respeito que tenho pelos espaços, perceber, aceitar e até mesmo sentir essa conexão espiritual com símbolos presentes. Com as caixas das esmolas ou com as vias sacras manchadas dos que passam de joelhos. Com as croas de ouro no topo de Torres ou com o ar magistral, tão imponente como opressivo de toda a construção.

Impõe-se depois o folclore de lembranças, de cores garridas em objectos "kistch" daqueles que sempre se viu perdidos pelos móveis em cima de naperons rendados. Desses que jurámos que nunca os iríamos ter.

Nessa mescla de contradições, entre a necessidade básica de apaziguar as dúvidas da existência e todo um pensamento abstracto perante as crenças e as religiões, onde fica a nossa fé? Para onde a dirigimos?

Aceitamos que a temos, ou vivemos num ligeiro cinismo descrente?
Tornamos-nos por fim subscritores das teorias do absurdo e da aleatoriedade da vida?

Ou cremos no sentido?

Aceitamos por fim uma explicação,  porque sim, é mais confortável crer...?

quinta-feira, dezembro 12, 2013

Escolher…

Se houvesse uma questão filosófica a atormentar a minha alma seria essa relação estranha entre a linha contínua e única do tempo e a multiplicidade de escolhas que se nos põem na vida.

Porque quando escolhemos um caminho, há um sem número de outras coisas que não vamos poder fazer, vidas que não viveremos e cada momento de sim, ou não, tem tanto de impulsionador da vida como de castrador de tantas outras possibilidades que ficaram irremediavelmente perdidas.

Em certos momentos as escolhas são fáceis, porque são óbvias. Regulares.

Noutros, tornam-se numa espécie de sítio nubloso, onde é suposto se acertar no alvo meio às escuras.

E depois de a pedra ter sido atirada é tão difícil voltar atrás, estamos constantemente dando saltos de fé. 

Quando decidimos onde vamos viver, quando aceitamos este ou aquele trabalho, até mesmo quando em momentos equívocos de paixão escolhemos com quem passar a nossa vida.

Momentos de sim, não. De escolhas desembestadas ou de ponderações demoradas, as escolhas, quando nos deparamos com elas, são momentos de esperança angustiada.

Desejamos até que alguém venha e escolha por nós. “Ei, alguém dá uma mãozinha a decidir aqui?”

Ficamos ou vamos? Começamos, acabamos? Decidimos por fim? Aceitamos menos? Queremos muito mais?

Colocamos-se nessa situação de perigo, não saímos da zona de segurança?

Ou o que gostávamos era de fazer tudo isso, voltar ao princípio e recomeçar?

Num tempo em que as vidas são cada vez mais móveis, apesar de pesadas, como se planeia o futuro?

Quais os desejos de ano novo se não sabemos bem a onde queremos estar?

A reflexão gera-se então em torno da nossa responsabilidade perante as escolhas que fazemos sozinhos ou influenciados pelos que nos rodeiam. Quer sejam escolhas que refletem quem somos, ou que apenas nos salvem da situação, escolhas são momentos, mas são momentos irremediáveis.

Podemos viver à deriva e esperar que as escolhas se façam por si, que sejam fruto da oportunidade, do destino. Mas até isso é uma escolha.

2013 entra agora na recta final, assim como a década dos 20’s. Nunca as escolhas foram mais difíceis, embora eu tenha hoje muito mais ferramentas para escolher. Embora eu seja hoje mais confiante, mais educada e pretensiosamente mais experiente.

Era expectável que o tempo tornasse a escolha mais fácil, mais óbvia.  E  o futuro se desenhasse por si.
Na minha mente, brilha ainda uma inquietação adolescente que diz que tenho todo o tempo de mundo para fazer tudo, sem escolhas.

E não é isso que todos queremos?

Ter tudo!





quarta-feira, dezembro 04, 2013

Estes dias...


Penteia-te e mete os brincos. Não cirandes o dia inteiro de pijama pela casa. Passa da cama para o sofá com alguma dignidade. Veste-te como se fosses de facto a algum lado.

Sai e bebe café. Lê os jornais. Cumprimenta as pessoas em quem tropeças na rua como se estivesses num tempo livre, e não demasiado livre das restrições do tempo.

Passa um a hora por dia a enviar currículos para emails entupidos e a magicar soluções de vida descabidas.

Não te lamentes, não tenhas pena de ti. O mundo não precisa de mais vítimas.

Encara a crise pessoal como uma oportunidade. Reavalia-te todos os dias, agradece o que não te falta.

Não vagueis sem rumo – passeia.

Não poupes – torna-te sustentável.

Não desejes o que não podes ter – conforma-te.

Não olhes para o passado – não há culpados.

Foca-te em pequenas tarefas – mexe-te.

Não leias livros de auto-ajuda. Enjoa tanta conversa positivista.

Desiste de procurar aquilo que apenas se encontra.

Tem fé. Não sejas cínica.

Aceita a perda de controlo, a falta de plano, a imprevisibilidade dos dias.

Cria essência da inutilidade das horas, das conversas vazias e da virtualidade das coisas.

Encara o mundo em mudança, aceita mudar com ele.

Aceita.

Corre e prepara-te.


Podes tropeçar em algo que necessites de correr para apanhar…